Na live dessa semana discuti com a professora Karoline Fin sobre as práticas de ensino de História sobre a Guerra do Contestado. Nesse sentido, apresentei algumas proposições que realizei, e dentre elas, destaca-se a experiência realizada em 2019 na cidade de Rio das Antas/SC, na Escola Nucleada Municipal Jacinta Nunes, onde produzimos um percurso didático que envolveu produção de contos e posteriores vídeos, em parceria com a disciplina de língua portuguesa.
Primeiramente discuti com os alunos seus conhecimentos prévios e elementos teóricos acerca da Guerra do Contestado, utilizando como referência a obra "Contestado Redes no Geográfico" de Nilson César Fraga. Nesse primeiro momento me aprofundei com os alunos sobre minúcias do conflito, surgindo disso vários relatos dos alunos sobre vivências cotidianas acerca da Guerra do Contestado.
É importante destacar que o município de Rio das Antas/SC está localizado na região do vale do Rio do Peixe, e teve desdobramentos históricos do conflito, como a morte do líder Francisco Alonso em 1914, que possibilitou a ascensão de Adeodato Ramos como último líder dos caboclos desvalidos do Contestado.
Com a finalidade de aprimorar essa sensação de pertencimento histórico que emergia, realizamos um passeio técnico até o Museu Antropológico da Região do Contestado (Caçador/SC) no mês de maio. Foi também um momento de integração com as pesquisas universitárias quando conseguimos levar os alunos no I Congresso Nacional do Contestado, no mês de junho de 2019, onde tiveram contato com pesquisadores e iniciativas populares dentro do contexto do conflito sertanejo. Posteriormente, realizamos um passeio técnico a cidade de Irani/SC, onde está localizado o túmulo do Monge José Maria de Santo Agostinho, local também da primeira batalha da Guerra do Contestado, além do museu de Irani/SC.
A partir de todas as vivências e experiências de ensino proporcionadas aos alunos, o trabalho se desenvolveu na disciplina de português. A professora Andrea Alves trabalhou o gênero conto com os alunos, especificamente os românticos. Nesse sentido, os alunos escreveram suas versões dos contos utilizando os cenários da Guerra do Contestado, conectando ficção e História. Os cerca de 60 alunos, dispostos em três turmas de 9º ano escreveram e reescreveram os textos, na forma de sequência didática, corrigindo erros narrativos e históricos.
Depois da elaboração e revisão realizada por mim e pela professora Andrea, no mês de novembro selecionamos junto com os alunos, três contos, um de cada turma, afim de adapta-los para o vídeo e posteriormente, divulga-los via redes sociais. Nesse momento, cada turma foi dividida em seis equipes, para que as tarefas fossem distribuídas de maneira que todos interagissem de formas diferentes no trabalho. Entre as funções estavam verificar locais para gravação, figurinos, adaptação narrativa, construção de roteiro, atuação e filmagem.
Em um intervalo de duas semanas as turmas foram atuando, cada a sua maneira. Tutelei diretamente os alunos do 9º ano 02, dirigindo e editando o vídeo, com a autonomia deles coordenando todo o processo restante, conseguindo um belíssimo sitio para gravação, e construção de elementos de cena como sangue falso, além de possuir sequências de cena mais elaboradas.
O 9º ano 01 comandou todo processo de gravação, delegando somente o vídeo para que eu editasse, conseguindo sintetizar com uma linguagem dramática bem interessante as cenas. A única turma que desenvolveu o trabalho de forma totalmente autônoma foi o 9º Ano 03, que usou horários alternativos para gravar e editar o vídeo.
Para que o resultado conseguisse sair a tempo de ser lançado no final do ano letivo, contei com apoio de todo corpo pedagógico que forneceu suas aulas e colaborações para a produção dos alunos. Além disso, a escola disponibilizou uma das câmeras usadas na gravação dos curtas, que contaram somente com mais uma câmera extra minha e o celular dos alunos, não tendo nenhum custo maior que 15 reais, preço de uma barba comprada para ser utilizada no monge.
Após toda sequência de trabalho os vídeos ficaram prontos no início do mês de dezembro, podendo ser apresentados aos alunos da escola de 5º a 9º ano, além de serem postados no mesmo dia no YouTube e disseminado nas redes sociais, podendo se tornar opção de análise de alunos e professores, se comparados com fontes e elementos históricos. A realização dessas obras de curta metragem definiram uma prática de reconstrução da memória do contestado e o significado da aprendizagem significativa no contexto da História Regional, fazendo com que se proporcionasse a oportunidade de rever suas visões e conceitos sobre o Contestado.
Essa proposta de trabalho conseguiu firmar elementos culturais dentro da escola, como as viagens técnicas à regiões próximas e o início da implantação de um projeto contínuo que aprimore a prática de entendimento com o Contestado, assimilando professores e alunos na produção de trabalho. Na região sul é necessário reafirmar o trabalho de estudo e produção nas escolas de educação básica sobre os problemas sociais derivados dos conflitos regionais, afim de compreender a diversidade cultural e desmistificar a História dos vencedores. Nisso, busca-se aliar interdisciplinaridade e cultura escolar no desenvolvimento de práticas pedagógicas positivas, e colocar o aluno como produtor e disseminador de conhecimento.
CONFIRAM AS PRODUÇÕES DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS:
VÍDEO DA VISITA TÉCNICA NA CIDADE DE IRANI/SC REALIZADA PELOS ALUNOS DA E.N.M. JACINTA NUNES:
LIVE COM A PROFESSORA KAROLINE FIN DA QUINTA FEIRA 11 DE JUNHO, ONDE DISCUTIMOS CONTESTADO E SALA DE AULA:
COMO CITAR ESSE ARTIGO:
PEIXER, Arthur Luiz. O Contestado e a Sala de Aula. In: Blog EnsinArthur. Disponível em: http://ensinarthur.blogspot.com/2020/06/o-contestado-em-sala-de-aula.html . Publicado em: 13 de junho de 2020. Acesso: [informar a data].
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