As demandas educacionais que se ampliam desde a última década do século passado fizeram surgir inúmeras duvidas em relação à função dos professores. Hoje, na realidade educacional brasileira, possuímos problemas de ordem estrutural e de formação de profissionais. Dessa forma, iremos discutir algumas questões que fundamentam o trabalho docente em relação à formação, e a qualidade educacional nas instituições de ensino.
Ao pensarmos a formação de professores, ainda somos vitimas de um ensino baseado no racionalismo técnico (ALMEIDA, 2007, P. 290) que, sem o devido subsidio, está enraizado na discussão rasa de aspectos relacionados à sala de aula. Quando não há reflexão da prática desenvolvida, pouco se acrescenta no trabalho do professor, que acaba por direcionar seu foco no trabalho burocrático, ao invés de um ensino de qualidade. Contudo, não se deve culpar o professor, que muitas vezes está com sua carga horária lotada, e possui pouquíssimo tempo para preparar-se adequadamente para o embate em sala de aula. Ao pensar essa perspectiva, Almeida analisa as visões epistemológicas de três autores do campo educacional, e reflete sobre questões acerca de uma nova visão sobre teoria e prática na visão dos professores, partindo de sua formação:
O autor propõe um repensar das relações entre teoria e prática, pois entende que tanto a universidade como os professores de profissão são portadores e produtores de saberes, de teorias e de ações. [...]. Para Tardif (2002), a formação inicial visa habituar os alunos, futuros professores, à prática profissional dos professores de profissão e fazer deles práticos reflexivos. (ALMEIDA, 2007, P. 292).
Ao refletir a formação centrada nas práticas educacionais, Antonio Nóvoa reflete sobre a formação continuada de professores. Além das perspectivas pedagógicas, o autor enfatiza a consolidação de uma discussão afundo nas formações continuadas, produzindo reflexões sobre elas e uma troca de informações que se construam também a partir da produção científica.
“O segundo desafio é a formação mais centrada nas práticas e na análise das práticas. A formação do professor é, por vezes, excessivamente teórica, outras vezes excessivamente metodológica, mas há um déficit de práticas, de refletir sobre as práticas, de trabalhar sobre as práticas, de saber como fazer. É desesperante ver certos professores que têm genuinamente uma enorme vontade de fazer de outro modo e não sabem como. Têm o corpo e a cabeça cheios de teoria, de livros, de teses, de autores, mas não sabem como aquilo tudo se transforma em prática, como aquilo tudo se organiza numa prática coerente. Por isso, tenho defendido, há muitos anos, a necessidade de uma formação centrada nas práticas e na análise dessas práticas.” (NÓVOA, 2007, P. 14).
Dessa forma, aliando conhecimento cientifico, discussões universitárias e estruturas curriculares e pedagógicas, além de formações que privilegiem as experiências e o fim de um individualismo latente, possibilita-se a construção de um trabalho docente de melhor qualidade no âmbito da sala de aula.
Nesse sentido, como profissionais da educação, somos constantemente indivíduos que devem “aprender a aprender” para depois poder ensinar e aprender. Jacques Delors presidiu em 2010 um relatório para Unesco, onde ele apresenta os 4 pilares da educação, embasados todos nessa teoria. Na visão do autor, quando aprendemos esse processo, não só estamos passando conteúdo, mas visamos formar indivíduos que aprendam a refletir a prática educacional e “[...] deve no futuro inspirar e orientar as reformas educacionais, seja na elaboração dos programas ou na definição de novas políticas pedagógicas.” (DELORS, 2010, P. 31). Ao percebermos a formação social do individuo, não se deve portanto jogar conteúdos, e sim, estimular sua formação crítica. Entretanto, quando pensamos nesse processo, deve-se começar da base, ou seja, com uma formação de professores mais criteriosa e com maior qualidade, tanto na formação inicial como na formação continuada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DELORS, Jacques. Capitulo cinco, A educação ao longo da vida. IN: Educação, um Tesouro a Descobrir Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional Sobre Educação Para o Século XXI. 2010, (P. 31).
NÓVOA, Antônio. Desafios do Trabalho Docente no mundo contemporâneo. Sinpro Sp. São Paulo, 2007.
PEIXER, Arthur Luiz. Os Desafios Docentes: Formação de Professores. In: Blog EnsinArthur. Disponível em: http://ensinarthur.blogspot.com/2020/06/os-desafios-docentes-formacao-de.html . Publicado em: 19 de junho de 2020. Acesso: [informar a data].
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