As experiencias sociais e religiosas da região do Contestado nos permitem entender a presença dos sujeitos, a ocupação do território e a relação destes elementos com a vida cotidiana dos caboclos no espaço compartilhado que se formou. Sob a égide das leis pregadas pelos monges João e José Maria, as cidades santas demonstram possuir diversos elementos que são responsáveis por auxiliar na compreensão do movimento social sertanejo do início do século XX.
Ao analisar a história do conflito a partir da formação das vilas santas, é possível alicerçar alguns motivos que levaram os caboclos a reunirem-se. Dessa forma, o objetivo desse texto é pontuar quais elementos dessas cidades são elencados no texto escrito por Delmir Valentini (2022) como características gerais, comuns a todas as cidades santas.
Primeiramente, destacam-se a formação dos quadros santos. Como uniformidade dos redutos, os caboclos reuniam-se na praça central, normalmente próximos a igreja, a fim de formar uma estrutura em formato quadrado, demarcada por bandeiras e cruzes. Essa abordagem era necessária para organizar a forma como eram feitas as orações, passadas as ordens e divididas as tarefas. Nesse Há uma forte hierarquia religiosa. Além disso, cabe ressaltar a importância das virgens, como Maria Rosa, que no fim também assume plenos poderes como líder de briga, estando a frente de Caraguatá e Bom Sossego.
Como característica central dessas formações populacionais era a escolha dos vales. Nesses locais de difícil acesso os caboclos se organizavam de maneira isolada, dificultando o acesso para ataques de militares. A estratégia do general Setembrino de Carvalho, durante o ano de 1915, através do cercamento, coloca os caboclos em situação de fragilidade frente ao que antes era uma qualidade. Ao dificultar o acesso de bens de consumo, a fome e a moléstia tornam-se questão chave para sufocar cada vez mais os sujeitos marginalizados do Contestado.
Apesar de tudo, a cidade santa apresentava-se como uma proposta de encontrar uma terra sagrada, sem males, de vida compartilhada, onde todos eram iguais. Os interesses que surgiram naquele período, baseados na exploração dos sujeitos e na violência do Estado contra os mais pobres, identificaram nessa busca por liberdade uma forma de afronta, vestida pelos poderosos como fanatismo. Portanto, ao enfrentar as forças oficiais, os caboclos significaram algo que deveria ser destruído aos olhos dos mais ricos, uma força coletiva que deveria extinguida a qualquer custo.
Quadro "Reduto" de Dea Reichmann. A artista reinterpreta como era a organização das casas nas cidades santas. Veja que as cruzes na parte central demarcam o que seria o "Quadro Santo". (Fonte: UnC) |
Representação de um quadro santo (Queiroz, 1977). |
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
VALENTINI, Delmir. Cidades Santas ou redutos: igualdade, fé e fraternidade. IN: RODRIGUES, Rogério Rosa; MACHADO,Paulo Pinheiro; TOMPOROSKI, Alexandre Assis; VALENTINI, Delmir José; ESPIG,Márcia Janete. A Guerra do Contestado Tintim por Tintim. São Paulo, Editora Letra eVoz, 2023. (p. 229 – 237).
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