quinta-feira, 9 de maio de 2024

A REPRESENTAÇÃO DOS NEGROS NOS QUADRINHOS: SUPER CHOQUE E A MILLESTONE MEDIA

     Os quadrinhos sempre refletiram os dilemas e as lutas sociais da época em que foram constituídos. Desde os primeiros dias das histórias em quadrinhos até a atualidade, essas narrativas coloridas têm sido um espelho para diversos eventos históricos ocorridos na sociedade contemporânea.

    Nos anos 1960 e 1970, uma era marcada pelo fervor do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, surgiram personagens como Luke Cage e a série "X-Men", ambos refletindo as lutas e os desafios enfrentados pelas minorias. Luke Cage, o herói de aluguel, representava a ascensão dos negros em uma sociedade que tentava mantê-los à margem. Já os mutantes da série "X-Men" eram uma metáfora poderosa para as experiências daqueles marginalizados por causa de sua diferença, uma analogia clara à luta contra o racismo e a discriminação.

    Além dos diversos debates e avanços produzidos durante as décadas de 1960 e 1980, foi nos anos 1990, com o surgimento da Milestone Media, que se proporcionou um maior debate dentro do mundo corporativo dos quadrinhos ocidentais. Fundada por Dwayne McDuffie, um roteirista negro, A editora tinha como proposito dar voz e espaço para artistas de minorias étnicas. A Milestone foi um ponto de diversidade em um mar de homogeneidade do mercado estadunidense dos quadrinhos. Seus personagens, como "Hardware", "Icon" e o icônico "Super Choque", não apenas representavam uma multiplicidade de origens étnicas, mas também abordavam questões sociais urgentes, como racismo e violência urbana.

McDuffie no final dos anos 1980 (Fonte: Wikipédia).

    Super-choque é um dos personagens de maior sucesso da Millestone Media. A série produzida pela Warner em 2003 traz não somente um jovem periférico como personagem principal, mas suscita debates relacionados ao porte de armas, violência, bullying, racismo, etc. Muito embora o recorte de análise aqui proposto seja o das histórias em quadrinhos dos EUA, cabe ressaltar que a geração millenials no Brasil cresceu assistindo não só super choque, como Liga da Justiça, série a qual Dwayne McDuffie fez parte. Nesse sentido, é importante entender as HQs como um reflexo da cultura, os quais foram problematizados diversas vezes e contribuem para tornar a obra mais contemporânea do que nunca.

Super-Choque (Fonte: O Hoje).
   
 O trabalho de McDuffie torna-se um caminho para compreender como as HQs não são apenas entretenimento, mas uma forma de trazer debates políticos e sociais relacionados a representatividade, resistência, lutas de classes e a opressão colonial. A representação de personagens negros nos quadrinhos é a ponta do iceberg de toda uma indústria, que muitas vezes usa dessas pautas com o intuito de obtenção de lucro e exploração do trabalho de roteiristas, desenhistas e demais profissionais que produzem as histórias veiculadas por grandes corporações.  

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